quarta-feira, 21 de março de 2012

Um pouco de 'idiotez'

(pego num cigarro)
Imaginemos:
(acendo)
Toda a gente é convidada. Amigos, melhores amigos, pessoas que fazem algum sentido. Colegas, conhecidos com quem se está diariamente. As pessoas de quem gostamos e as pessoas por quem temos um carinho especial. Mas acima de tudo a pessoa que desejamos, queremos e sentimos uma certa paixão, sentada numa das pontas da mesa.
Nestes todos há aqueles quem odiamos, de certa forma, também.
Todos reunidos. Todos sentados numa mesma mesa. Alguns em grupo, outros meios separados sem conhecer ninguém. Na altura até se podem fazer amizades por conveniência da solidão existente.
Mas, a meu ver todos falando.
Imaginemos eu sentado na outra ponta da mesa.
Sentado, calado, observando. Procuro saber o porquê de cada pessoa ali estar. Algumas porque faz sentido, outras apenas porque lhes apeteceu, outras porque realmente querem ali estar, outras, ali, pela curiosidade daquele convite.
Imaginemos que se encontram ali todos os que foram convidados. Os simpáticos e os antipáticos. Os bons e os maus. Os que me ajudaram e aqueles que me puxaram para trás. Aqueles que acreditam e aqueles que já não são capazes de tal. O preto e o branco. O fogo e a água. Todos juntos, de certa forma misturados.
Todos se questionam porque ali estão. Eu respondo que nem eu próprio o sei muito bem. Apenas tenho uma coisa em mente.
De início vem a comida, e eu apenas pergunto: o primeiro que nunca pecou que se levante e vá embora. Filósofo que sou, todos se riem e no entanto todos ficam e comem. Já que é para isso que cada um ali está.
Tudo corre bem, as conversas fluem e os olhares no fundo da mesa são capazes de surgir.
Vem o café para quem quer. Pequeno prazer.
(outro cigarro)
Aí digo: quem nunca errou que se levante e vá embora. E no entanto todos erraram e todos ficaram.
No final de tudo, peço permissão para falar.
De copo cheio na mão.
E as palavras sucedem-se:
-A todos um obrigado por terem vindo. Apenas quero perguntar, quem nunca mentiu? Que não brindem comigo!
E assim seria. A imaginação no fundo de um copo de verdade.

Imaginemos que tudo isto é possível.
Imaginemos que não haveria nãos nem senãos.
Uma imaginação um pouco parca, inútil e idiota.
No entanto seria como tudo na vida. Coisas por serem e coisas por escolha própria.
Seria como eu. Como o meu Ser. Como eu enquanto pessoa.

Nem sempre fui de certas palavras. E no entanto fui de dizer outras.
Nem sempre fui sincero ou mostrei o que realmente queria. Mas, no entanto, sempre menti, omiti sem pestanejar. Sempre fiz o que achei correcto no momento. Como por outras vez fiz o que achei correcto, mesmo implicando erros. E assim aguentar com as consequências. Mesmo cabisbaixo mas de peito erguido.
Como agora.
Escolhi o que era errado, mas pensando em algo maior.
Ciente do que poderia acontecer e das previsões todas elas correctas, até as minhas.
Sempre tive algumas atitudes ditas de 'criança', outras que nem de 'adulto' se podem chamar.
No entanto fui acumulando algum saber em mim, mesmo que errado.
Como exemplo este pequeno texto, esta grande idiotice. No entanto a transmitir aquilo que sei, ou espero saber. [Não vá a Puta Da Mania subir em mim].

Sei neste momento que certas coisas já nada importam e que outras muito menos ainda.
Sei hoje que a mentira estará sempre presente. E o dito amadurecimento só surgirá quando assim se deseja, como em conversas. Como se tenta tirar ou dar razão a algo. Mas nunca em actos. Sim! Porque palavras leva-as o vento.
Alguns não saberão do que falo, como sempre, outros pensarão que sabem.
Mas digo que nem eu próprio sei do que falo. Apenas é o que me vai na alma.

Sei que trago em mim grande discordância e grande dissonância. Trago, imagino, em mim todos os sentimentos do mundo e trago nenhuns. Trago em mim todos os pensamentos possíveis, todos os cenários possíveis, mas aí ,apenas e só, sei quais os realmente possíveis e quais o que posso chamar de realidade.
Sei, hoje, e uma vez mais, o que não fazer, como sinceramente sei o que realmente quero.
E assim escrevo.
Assim o digo e assim o mostro:

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía."


Já nada soa com a mudança.
Muda-se apenas.
É-se apenas.
Sê-se apenas.
Sou!

I am, a whisper, a piece, a fear. A mistake!
As drunken as words could get. Sober and sincere: