sexta-feira, 19 de março de 2010

Pode demorar...


Hoje.
Hoje sinto-me assim. Como um idoso, sozinho, a aquecer-se de uma tela pintada por ele.
Metáfora!
A ironia das minhas palavras, a ironia dos meus pensamentos correspondidos por uma simples imagem.
Tento chegar a um consenso, mas fui eu próprio que pintei a tela. Fui eu que aprendi e cresci até chegar aqui. Pensar que aqui cheguei, que construí isto, tudo isto. Pinto, sujei as minhas próprias mãos com tal trabalho, mas fi-lo. Tão real. Tão real que parece. Que ilusão.
Com a idade avançada que o idoso tem, sabedoria nalgum dos casos, mas neste caso a sabedoria para poder pintar a tela assim tão real, ou assim tão ilusória.
Depois de pintada, depois de feito o trabalho, o velho na minha mente, recosta-se numa cadeira, num repouso mais real e tenta aquecer-se do irreal criado.
No fundo tudo uma solução irreal, uma ilusão, para se poder aquecer. Realizado pelo velho.
Ironia no real. Metáfora do irreal.
Hoje.
Hoje, já mal consigo abrir os olhos ou sequer respirar sem que tal acto magoe.
Estou cansado, demasiadamente cansado para construir o que quer que seja, mas como o velho já pintei a minha tela e agora tento aquecer-me da ilusão que dela advém.
Agora. Vou deixar-me levar, fechar os meus olhos, tentar não respirar este ar fétido.
Vou fazer com que o cansaço desapareça ou a dor dos actos que me mantêm vivo.
Vou deixar de ser sonhador, ou imaginar, ou pensar.
Vou deixar aquela pessoa ali, solitária, imaginadora, crente e desprezada.
Vou tentar descansar, procurar descanso.
No fundo entregar-me ao meu cansaço.
Boa noite.
Direi sempre boa noite...

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