sábado, 2 de junho de 2012

A mágoa é maior!



 Acordo. Está escuro. Consegue-se apenas perceber o que me rodeia com a pouca luz que passa pela fresta que a persiana não consegue tapar.
Não sei onde me encontro. Não adivinho como aqui vim parar.
Não me sinto perdido, apenas não sei que lugar é este.
Vejo caras estranhas. Corpos nus, despidos de qualquer mágoa.
Um cheiro intensa a carne. Suor. Cheiro pesado a sexo.
O meu corpo sente-se pegajoso.
Não reconheço o que fiz.
Tento relembrar como tudo acabou.
Vêem imagens à memória. Intensas. Carnais.
Ouve-se música que toca sem parar. A discografia ainda é a mesma.
Não fui o único a acordar. Há mais olhares a percorrerem o local.
Cruzam-se. Há um misto de dúvida, pesar, medo, sorrisos vêem à toa.
Tento levantar-me, mas o meu corpo não permite.
Cansado, dorido. Marcado.
Pulsos, ombros, pescoço.
Negro, num corpo tão branco. Dor.
Olho para o lado, ao sentir a pele colada.
Pele com pele. Colada de tanta transpiração.
Continuo a sentir o peso da atmosfera em que estou envolvido.
Vêem-se pernas, pés, braços, mãos. Cabelos, cabeças.
Roupa no chão. Corpos na minha mão. Ambas.
Delicio-me com os últimos pensamentos que me trazem à memória, o que foi o fim.
Não sei mesmo onde me encontro.
Cansado, dorido, satisfeito!
Estranho.
Alguém se move, cruzamos os olhos para o corpo que se movimenta.
Alguém ainda tem forças para se levantar.
Um corpo despido. Primeiro cabelos, costas, nádegas, pernas. Movimenta-se e sai da sala, quarto, divisão. Que lugar este.
Volta. Por entre do que os cabelos tapam, vê-se uma carinha com olhos semi-serrados a olhar para mim e para o outro conjunto de olhos presente na sala, quarto. Lugar este.
Ri-se. O outro conjunto de olhos torna-se pessoa.
Levanta-se. Vejo cabelos a não conseguirem tapar os seus seios. Devagar aproxima-se do outro corpo nu. Dão as mãos. Vejo constrangimento. Olham para mim e eu sorrio. Os seus olharam agora cruzam-se. O primeiro descobre o seu peito dos seus cabelos. Vejo-a ganhar coragem e dá um pequeno beijo na bochecha da pessoa à sua frente.
Um pouco tímida, mas gosta do gesto e retribui.
Sorriem!
Ainda perdido nos sentidos gastos. Tapo-me. Arrepiado.
Manjar dos deuses que tenho perante mim.
Uma visão do paraíso.
Calado, sem conseguir falar. Noto que me dói a garganta. Mesmo a língua.
Não estranho.
Trocam carícias. Deleito-me a ver os seus corpos pegados.
Pequenas partes destes a tocarem-se em simultâneo.
Sem forças para me juntar. Olho, apenas.
Sem perder, vejo que se vão aproximando.
Continuo sem me mexer. Sem forças.
Quando dou por mim tenho dois vultos à minha frente, em cima.
Corpos nus, que se baixam e me beijam.
Primeiro nos lábios, depois pescoço. A partir daí deixo de dar conta.
Um misto de dor e prazeres.
Vejo a coragem requerida nos seus corpos cansados e já suados, outra vez - penso.
O primeiro cruzar de olhos, ao descer põe as suas pernas entre a minha cabeça. Ajoelha-se.
Sinto cochas e depois já nem sinto.
Sinto, sim, algo lascivo. Húmido. Beijo, lambo, passeio com os meus lábios.
A língua dorida acorda.
O meu corpo estremece, algo me faz acordar. Um mesmo conjunto de lábios, línguas fazem-me acordar. Não a mim, mas também, o meu corpo.
A dor é imensa, a mágoa ainda maior.
As minhas mãos já não aguentam estar quietas. Percorrem o que encontram.
O corpo contorce-se.
Não aguento. Fujo. Parto. Perco-me!
A dor é imensa e a mágoa ainda mais. Penso!
Não consigo sequer pensar. Movimentos já automáticos.
Perco o controlo daquilo que nunca tive desde inicio.
Sinto-me a sufocar. As pernas que me envolvem apertam-me. Não consigo respirar. Ou assim julgo.
Delicio-me.
O segundo cruzar de olhos aproxima-se dos meus lábios e do que se encontra colados a eles.
Junta-se. Um pouco tímida. Mas vejo a diferença que trouxe a noite para o dia.
Sabe o que faz, ou pelo menos assim julgamos todos.
Beija como eu beijo. Faz como eu faço.
O corpo em cima pára com os barulhos já nada estranhos.
Afasta-se lentamente. Ainda por satisfazer.
A timidez aproxima-se, beija-me nos lábios enquanto alguém me sussurra ao ouvido um 'bom dia' nada tímido.
Os corpos colam-se em mim.
Contorcem-se. O ambiente aquece cada vez mais.
O corpo dorido, cheio de dor.
A dor é imensa, mas a mágoa ainda é maior.
E deixo-me levar pelo que resta dos meus sentidos.


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